miércoles, 8 de junio de 2011

Amizades perdidas

Hoje estou um pouco melancólica. Isto passa comigo não muitas vezes mas mais do que devia passar. Talvez eu esteja em estado de melancolia permanente mas escondido. Renegado. Que por vezes, zumba, aparece. Mostra-se; faz-se sentir. Por pouco tempo apenas mas o suficiente para me levar lá ao fundo.
Não sou uma pessoa forte. Sou uma cobarde. No meu caso há uma tendência para condundir a minha cobardia com uma fortaleza que eu não tenho. Uso um escudo protector e os outros pensam que eu sou "à prova de balas" ou bombas. Mas não sou. O meu escudo é feito de cartão canelado grosso. Aguenta umas quantas pancadas mas acaba por dobrar. Está cheio de emendas. Não sei quanto tempo vai aguentar mais.
Não me posso queixar. Às pessoas vistas como "fortes" não lhes é permitido queixarem-se. Temos de estar sempre de pé. Mas eu não sou uma pessoa forte. Sou uma cobarde vestida de forte. Podias ter-te vestido de frágil Sílvia. Sim podia, mas não me serviu esse fato. A cor não dizia bem com o meu cabelo e com os meus olhos.

Lembro-me bem quando no infantário as minhas queridas "amigas" diziam: "-Hoje não vamos brincar com a Silvia." E eu passava o dia a brincar com o meu fiel amigo Pedro Miguel enquanto as meninas faziam de conta que eu não estava na sala.
Fui uma criança muito sensível e muito desenvolvida intelectualmente. A estupidez e violência da minha professora de primária atrofiaram o meu gosto pela escola. Vivi 4 anos de medo. Cada dia que tinha de me levantar era um dia de sufrimento. Quando fui finalmente para a C+S foi como se nascesse de novo. 2 anos de felicidade absoluta. Chorei baba e ranho quando a minha mãe me disse que ia ter de mudar de escola. Teve de ser. Fui para o Porto. Bem longe naquela altura. Ninguém ia para o Porto aos 11 anos estudar. Eu fui. Mas dei-me bem. Conheci excelentes pessoas. Mais 2 anos de felicidade. Quando eu sou feliz sou invencível.
Os meus colegas do C+S não me voltaram a falar. Uma pena.
Ao fim de 2 anos no Garcia, tive de voltar a sair. A mudar de escola. Outro sufrimento. Quase morri. Devia ter morrido. Talvez assim pudesse ter continuado. Lá fui eu para o Lumen. Terrivel. 1ano só que aguentei. Hoje acho que não foi tão mau. O que vinha foi muito pior.
Colégio Nossa Senhora do Rosário: o melhor colégio do Porto. A pior escola onde alguma vez estive. Aqui conheci a verdadeira maldade juveníl. A maior estupidez humana. Como é que pessoas de "bem" podem ser tão parvas. A melhor sociedade portuense está podre e cheira mal.
Não tenho boas recordações destes 3 anos.
Aos 18 chega a maior idade. E a liberdade.
É bio, é bio, é Biotecnologia!
Tenho pela frente 5 anos de curso e uma turma que AMO. Sou quase independente. Tenho uma semanada gorda, um carro para conduzir que é uma maquina e um namorado. Sou feliz e isso nota-se na minha pele. Já visto a cores; deixei o preto e branco.
Como me engano. A minha felicidade tem a sombra do meu passado à espreita.
1º, 2º e 3º anos óptimos. Aprovados com nota excelente. Vida social e privada acima do que alguma vez esperei. Grupo de amizades que considero verdadeiras irmãs. O que é que eu não faço pelas minhas amigas. Uma delas em particular é a amiga, companheira, confidente, que eu nunca tive.
4º ano: o pior ano da minha vida. Perdi neste ano um braço e uma perna. Nunca mais me senti a mesma pessoa. Depois de 1999 a minha personalidade, a minha forma de ver as pessoas e as amizades nunca mais foram as mesmas.
Quando deixei de falar com a Carla - quando ela deixou de falar comigo, o mundo caiu na minha cabeça.
Porquê que as minha queridas amigas só sabem responder e não sabem perguntar?
Ainda hoje não entendo se o que eu tenho é azar, carma ou genético. Será que não tenho a sorte de conhecer pessoas que me cuidem como eu as cuido? Que saibam retribuir e não só receber?
Em 1999 passei de ser uma amiga a ser uma persona no grata. E porquê? Os amigos são para tudo: bom mau. Não há ninguém que só saiba rir e ser super. Todos choramos e temos mau humor. Todos menos eu. A mim não me foi permitido expressar o meu lado menos bom. O meu lado rebelde. Fi-lo e paguei com a indiferença e a má língua daqueles em que eu confiava. Tive de tragar muitos sapos, muitos espinhos. Tive de voltar a aprender a estar só e a não ter amigos. Tinha conhecidos. Pessoas que ainda hoje conheço mas que não são amigos de verdade.

Mas será que alguma vez estas amigas foram mesmo minhas amigas?
Vejam como este episódio me marcou tão profundamente que hoje, 12 anos depois ainda me doi quando penso.
Eu fui muito amiga da Carla. Tentei várias vezes redimir-me do meu momento de mau feitio. A Carla nunca foi minha amiga. Hoje consigo vê-lo claramente. Os amigos de verdade entendem quando uma pessoa explode e diz e faz coisas estranhas. Porque todo o mundo o faz. Por acaso a minha mãe deixa de ser minha mãe e de gostar de mim porque eu me portei mal? Ou eu deixo de gostar dela e de a sentir igual só porque me deu uma sapatada (merecida ou não)?
E o resto do pessoal? Alguém alguma vez me perguntou: "Que te passa?" "Porquê que estás com esse mau feitio?"
Não. Nunca o fizeram.

Quero pôr um ponto final nesta história mas não consigo. Tento várias vezes abrir capítulos novos que não desenvolvem. É como um diálogo em que só um é que fala, escuta e vê.
Vêem como sou uma cobarde? Uma pessoa de coragem já o tinha feito em 1999.

Hoje estou melancólica. Amanhã já estarei bem outra vez.

No hay comentarios: