miércoles, 15 de abril de 2009

Serpente cuspideira vs Nepaleses


Sabem qual é a semelhança entre os nepaleses e as cobras cuspideiras? Ambos passam o tempo a cuspir.


Amigos, é repugnante tanta cuspidela que este pessoal dá. Quando chegámos a Kathmandu e começámos a ouvir tanta cuspidela pensámos: é devido à poluição. Até porque nós mesmos ficámos com vontade de dar umas quantas cuspidelas também.


Mas, já em pleno monte, rodeados de tanta Natureza, o som era o mesmo e a gente masculina cuspia sem dó nem piedade como se tivessem a sofrer da maior gripe de todos os tempos. Todo o caminho, sempre que passava um homem, um jovem ou uma criança (já sabem cuspir), o mesmo asqueroso ruído. Já estão a imaginar como estava o chão, não estão?


Eu não consegui saber o porquê de tal hábito. Penso que é porque mastigam muito tabaco. Mas não sei.
Já sabem, se forem ao Nepal preparem os ouvidos e engulam em seco porque vão ouvir muita cuspidela.
Nota: Esqueci-me de comentar outra habilidade nepalesa, a qual não vou descrever por ser já bastante repugnante só com a informação que vos deixo: não usam lenços de papel, de pano ou de outro material.

Island Peak fotos























































martes, 14 de abril de 2009

Island Peak: de 29.03.09 a 09.04.09




Dizem os especialistas que só se pode considerar que se subiu um pico quando se sobe e se desce até ao ponto de partida sem que nada de mal (entenda-se morte ou ferimento grave) aconteça. Porquê? Porque é tão importante a subida como a descida. Não nos podemos esquecer que grande parte dos acidentes ocorrem já em plena descida, quando a pessoa está cansada e satisfeita da façanha de ter estado no topo. Vejam só o caso do João Garcia.

Por isso, consideramos que esta viagem começou no dia 29 de Março e terminou no dia 09 de Abril, nomeadamente chegada e partida de Lukla, tendo a ascensão ao pico acontecido no dia 05 de Abril por volta das 09:00 da manhã.

Vou tentar ser breve mas será difícil:
Saímos de Madrid por volta das 06:30m do dia 27.03.09 e chegámos a Kathmandu no dia 28 por volta das 11h (hora local). O fuso horario entre Madrid e Kathmandu são cerca de 5h.
As viagens correram super bem. O pior foi as 10h que estivemos parados em Delhi.
Devo dizer-vos que viajar no terceiro mundo é um filme que merece uma entrada própria no blog só para contar.

Quando chegámos a Kathmandu estava um fulano de uma agência à nossa espera. Namaste! Namaste! (forma de se cumprimentar em Nepalês). E colocam-te um lenço amarelado ao pescoço – estilo o colar de flores no Hawai. Enfim...Seguimos para o Hotel.

Meu Deus! Nunca vi tanto caos na minha vida. Kathmandu é a pior anarquia que se pode imaginar. Vale tudo nesta cidade. Poluição até dizer chega, tanto atmosférica como sonora. Os nepaleses supostamente conduzem pela esquerda mas as faixas na estrada são feitas pelos condutores. Não há sinais nem semáforos. Tudo ao molhe e fé em Deus. Um filme. E só apitos. Vivem a buzinar-se uns aos outros tanto faz que sejam peões, condutores ou cães.
O cheiro é um misto de esgoto com comida e com gasóleo. Um nojo!
Já publicarei uma entrada para falar sobre Kathmandu.

Chegados ao hotel o que nos apetecia era tomar banho e relaxar um pouco. E assim foi mas antes encontramo-nos com a agência que organizou a subida ao pico para recolhermos as licenças e pagarmos.

Dia 29.03.09

Dia da viagem para Lukla. Tomámos o pequeno-almoço no quarto às 05:30 e fomos para o aeroporto. Outro caos. Os balcões do check-in são umas cenas em madeira com o nome da tua companhia aerea e ninguém respeita a fila. Os nepaleses espertos porque falam o idioma deles tentam passar à frente os clientes mas como todos fazem o mesmo ninguém se entende. Tens que ser firme e às vezes dar uns murros no balcão ao passam de ti. E não te preocupes se vires que está a chegar a hora do teu voo: não se respeitam horários no Nepal.

Depois de muito lutar lá fomos para o avião – uma coisa pequenita com duas hélices. Que viajem. São 30 minutos de pura adrenalina. A pior parte foi quando o avião começou a tremer devido às bolsas de ar e de repente faz um zig zag. Ninguém dizia nada – nem o grupo de chineses com as máquinas fotográficas. Não se ouvia um clique.
Quando se chega a Lukla os turistas são rodeados de nepaleses que querem servir ou seja, são os “porters”. Buscam trabalho como carregadores. São piores que melgas porque não te largam e alguns fazem questão de te acompanharem durante parte do trajecto. Tens que ser rude com eles ou simplesmente ignorá-los.
Nós não estavámos interessados em levar um carregador connosco. Eu levava 15Kg e o Pedro 20Kg nas mochilas e estávamos felizes com o nosso peso (que grande mentira acabo de escrever). Estávamos carregados como uns burros ou yaks neste caso. Decidimos fazer tudo por nós mas apesar do esforço foi uma decisão acertada. Mas custosa.

Pés ao caminho. Neste dia andámos cerca de 6h. Fomos de Lukla até Phakding. Tomámos um chá e comemos um chocolate e depois dormimos um pouco mais à frente de Monjo, num lodge chamado Nirvana. O tempo ameaçava chuva e não encontrámos lugar para a tenda. Foi a nossa primeira noite e esteve bem.

Na manhã seguinte, saímos sobre as 07:30m. O dia nasce sobre as 06:00 e às 18:00h fica noite. O normal é levantar cedo e deitar cedo.
O trajecto este dia foi sempre a subir até Namche Bazar – a maior vila do Vale de khumbu. Demorámos 04h30m a chegar. Estava “hasta las narizes” de tanto subir e já não tinha posição para a mochila.
Aqui regalámos-nos porque pudemos comer um bom almoço e pagar com o cartão visa. Depois ainda continuámos a caminhada por mais 2h até ficar quase noite. Parámos numa pequeníssima povoação chamada Khunjung. Aqui dormimos num lodge do pior que encontrei. A sanita era um buraco no chão de madeira e se olhavas para baixo vias o monte de merda acumulada durante os vários dias ou meses ou anos. Sei lá! Imaginem o cheiro! Nada de água corrente para lavar os dentes e a cara. Ficas tal como estás até encontrares algo melhor.

Esta foi a primeira tentativa de “roubo”. Sim! Cuidado com os nepaleses que só pensam em dinheiro e em como sacar-to.
O quarto custou 100 npr e bebemos um pote de chá pequeno que custava 300npr. Total: 400npr. Mas o dono queria 500 npr. E porquê? Somos tontos e não sabemos fazer contas queres ver?! Nada, queria tentar sacar mais 100 npr mas não conseguiu.

Quando se faz um esforço continuado, mesmo que se durma bem e se coma, o corpo já não recupera ou seja, nunca partes do zero outra vez. Foi o que me passou neste dia. Quando colocava a mochila nas costas sentia-me bem mas passado pouco tempo já estava que não podia com o rabo do gato. De Khunjung até Tengboche, a próxima paragem, é sempre a subir mas a pique. Valeu-nos a neve que tinha caído de noite e que íamos comendo, recolhendo-a da copa das árvores.
No Nepal, quando há sol faz muito calor mas assim que ele se vai fica muito frio. Caminhar era um sofrimento não só pelo peso que transportávamos mas também pelo calor que fazia e pelo terreno que é terra batida com pedras e declives de 50º e mais.

Bem, lá chegámos a Tengboche no dia previsto: 31.03.2009
Tengboche é uma povoação pequena que tem um convento budista. Pelos vistos os monges que deviam levar uma vida desprovida de bens também gostam de money e acham que os turistas são a sua fonte de rendimento. Chegas a um lodge e perguntas o preço: 200npr mas tens que comer ou cobramos 1200npr. Ok. Ficamos e comemos o que pudermos. É lixado quando viajas com o dinheiro contado.
É um engano pensar que o Nepal é barato. Nunca paguei tanto por um chocolate ou por um rolo de papel higiénico. Sim amigos, no monte há coisas muito importantes que na cidade nem se valorizam.

Em Tengboche encontrei as pessoas mais antipaticas e ladronas de toda a viajem. Mas também vimos um potro acabado de nascer ainda a tentar por-se de pé. E a égua com a placenta pendurada.

São giras também as conversas que se têm com pessoas que estão um pouco como tu. Conhecemos uma brasileira que viajou com o João Garcia – a Helena. Muito simpática.

Dia 01.04.2009: Este foi o dia pior de todos. Andámos o equivalente a 13 km em linha recta (mas muito mais na montanha). Fomos até Chukhung, a última povoação do vale, antes de começar a caminhada para o pico.
Nunca mais chegávamos à porra da vila. Foram horas de desespero. Passámos numa vila e pedimos a um homem para nos emprestar uma panela para cozinharmos. Tínhamos comida e fogão mas não tínhamos louça. Vejam bem: enquanto lhe cheirava a dinheiro dizia que sim. Quando viu que não levava nada que era só caridade disse-nos:
- Not possible.
Assim são os nepaleses.

Chegámos a Chukhung tarde e imensamente cansados. Estávamos esfomeados e desidratados.
Chukhung está a 4740m de altitude. Eu estava mal mas o Pedro estava pior do que eu. Nessa noite sofremos do mal da montanha: umas dores de cabeça horrorosas.
Nem o bife de yak com as batatas fritas nos valeu.

Na manhã seguinte já nos sentíamos melhor. Resolvemos subir um monte de 5000m ali ao lado para nos aclimatarmos. O problema foi que nós fizemos tudo sempre a subir ao estilo alpino e não himalaico. Nos Himalaias deves subir até uma determinada altitude mas dormir mais abaixo para aclimatar. Nós subíamos muito e dormíamos aí mesmo. Além disso, deves beber muiiiiiiiiiiita água.

Em Chukhung ficámos 1 dia completamente parados para descansar. À tarde chegou o nosso guia, que nos levaria até ao pico nos dias seguintes. De Chukhung para a frente só podes seguir com um guia e com uma licença.

Dia 03.04.2009: de Chukhung até ao Campo Base – nesta viajem disse mal da minha vida. Sentia-me muito mal. Tinha comido uma torrada com geleia de fruta que não me caiu bem no estômago. O pão de forma no Nepal leva muito fermento para aguentar mais tempo e as torradas são feitas numa chapa onde se faz de tudo assim que quando comes uma torrada pode saber-te a bife ou a outras coisas.
No Campo Base montaram-nos a tenda – aqui já tínhamos carregadores – e passei o resto do dia deitada. O Pedro foi bater o terreno e aclimatar um pouco mais. Os dois mocitos que estavam com o guia eram uma simpatia. Estavam sempre a levar-nos chá e comida à tenda.
Infelizmente o meu apetite era nulo. Só conseguia beber líquidos e sopas.

Dia 04.04.2009: do Campo Base para o Campo Base Avançado (CBA) – mais uma porra de uma subida com inclinação de 50º.
Igual: Pedro bate terreno enquanto eu fico deitada. Apetite negativo e quase que nem a sopa posso comer. Não está bem dizê-lo aqui mas fiquei com diarreia. É muito lixado ter diarreia na montanha – perguntem ao João. Aguentei porque estava quase lá se não tinha que voltar a Chukhung.
No CBA não há água. Os mocitos têm de subir para buscar gelo. A qualidade da água evidentemente não é um espanto apesar de ser glaciar. Muitas vezes sabe ao petróleo que usam no fogão.

Dia 05.04.2009: Pico – chegou o grande dia. Saímos sobre as 03:00h da manhã. Um trajecto lento e penoso. Tivemos que rodear uma grande rocha e subir monte a cima sempre em terreno rochoso. Eu detesto este tipo de terreno.

Somos o último grupo. Podemos ver as luzes que sobem dos outros grupos que vão à nossa frente. A preocupação de todos é a cravasse (fissura no gelo) que pelos vistos este ano está maior e faz com que as tentativas ao pico saiam bastante falhadas.
São quase 07h e finalmente chegámos à parte de calçar os crampons – a parte que eu mais gosto. Finalmente temos glaciar!

Podemos ver que temos 2 grupos à frente: um grupo de 2 americanos e 1 francês mais os 3 sherpas e o grupo do chinês que nos acompanha desde Chukhung.
Rapidamente chegámos à zona da cravasse. Ok. Temos que saltar 2 vezes algo como 1,5m para cada lado. O chinês, estão a tentar passá-lo por outra zona. Que visão: 2 sherpas a puxarem 1 chinês.
Nós vamos os 3 encordados: o Pen (nosso guia), eu e o Pedro. Saltámos sem problemas as duas cravasses.

Mais um pouco a caminhar e chegámos à base do pico: uma parede vertical cheia de buracos (cravasses). O 1º grupo está sentado a hidratar enquanto os guias analisam o terreno para fixarem as cordas.
Nós não, o Pen mete o turbo e zás, começamos a galgar parede a cima mesmo sem as cordas fixas. Sobe o Pen, subo eu, sobe o Pedro. Sobe o Pen, subo eu, sobe o Pedro. Assim uma data de vezes. Já estamos à frente. Parámos e o Pen ajuda a fixar uma corda. Agora vamos subir usando só o jumar (um ascensor). Já estámos no cimo da parede, na crista da montanha. Daqui para a frente há cordas fixas sempre montadas.
Estou bem mas não gosto do que vejo: ainda falta tanto para chegar. As imagens que via na net não se assemelham ao que estou a ver. O pico parecia mais plano.

Bem, mais um esforço. Finalmente chegámos. Eu fui a primeira (depois do guia) a pisar o pico nesse dia. O Pedro chegou logo a seguir.
Que sensação fantástica. O dia está do melhor e a visão que temos ao nosso redor é impressionante. A única pena é que todos os picos que nos rodeiam são mais altos. No Montblanc são todos mais pequenos.
Mas mesmo assim é impressionante. Fotos, fotos e fotos. Tempo de descer.

Os americanos são os primeiros a começarem a descida – lentos...na parede temos que fazer rappel e um deles é cheio de coisinhas e demora carradas de tempo. Bem, aprecia-se a paisagem enquanto se espera.

Quando se desce só se quer estalar os dedos e estar já no fim de tudo. Afinal, o pico já está feito.

Não vos vou maçar com a descida. Foi o mesmo que a subida mas ao contrário e mais penoso ainda porque já só pensava em regressar à minha casa.
Cruzámo-nos como montes de turistas acabados de chegar e frescos que rejubilavam de contentes. Reconhece-se bem quem está ali para subir picos e quem está para fazer caminhadas.


E pronto, como tudo na vida, o tempo passa e ficam as memórias e a experiência. Agora que já cá estamos outra vez olho para trás e penso: que fácil que foi chegar até lá. Soube a pouco.

Temos que voltar um dia mas se assim for será para subir a maior montanha do mundo e não para fazer um piquito.

Já vos contarei. De momento quero descansar e pensar nas minhas férias de Verão que este ano serão do mais caseiras possível.

Até breve amigos. Vejam as fotos.
Nota: Os lenços ficaram presos numa das várias pontes que atravessámos. Têm o nosso nome e data escritos.